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Na Resenha com Pedro - projeto VOZES PRETAS | Luiz Fara Monteiro

Dando continuidade ao projeto VOZES PRETAS, destaco o mercado de trabalho para os negros. A taxa de desemprego da população preta é historicamente maior do que a de brancos, porém com a pandemia que estamos vivendo esta taxa chegou a um recorde histórico desde 2012. Segundo dados do IBGE, o índice de desemprego no último trimestre de 2020 fechou desta forma: 16,1% pessoas de cor preta, mesmo percentual para pardos, enquanto a de brancos foi 11,5%.

Ainda de acordo com o IBGE, o perfil mais comum de desempregado no ano anterior foi de homem jovem de cor preta com ensino médio incompleto ou equivalente. Mesmo havendo políticas de inclusão, o nosso país ainda assim, é perverso com a população negra. Para não esquecerem: #VIDASPRETASIMPORTAM.

Para falarmos melhor sobre o mercado de trabalho na área do jornalismo e um pouco da sua carreira convidamos o jornalista e radialista premiado Luiz Fara Monteiro, apresentador do Jornal da Record. Na nossa entrevista falamos um pouco sobre os desafios que um jornalista negro pode encontrar no mercado de trabalho, sobre políticas públicas para a inclusão do estudante em instituições de ensino, além dos percalços que um jornalista negro pode encontrar para fazer um bom jornalismo. Deixo aqui meu agradecimento pela oportunidade em entrevistá-lo, quero que saiba que como jornalista me espelho no seu trabalho e vendo você à frente de um dos principais telejornais do país me faz lembrar que sim, nós jornalistas pretos podemos chegar onde quisermos.

Pedro Lima: O que te levou para o jornalismo? Como foi sua trajetória no período acadêmico?

Luiz Fara Monteiro: Meu primeiro emprego foi aos 16 anos, como locutor de rádio, em um grupo de comunicação da capital federal. Embora o universo de rádio e tv me atraísse desde a adolescência, naquele momento em jamais imaginava que fosse trabalhar no meio.

Anos depois fui convidado para apresentar um programa de entretenimento na tv do grupo e só então me interessei em cursar jornalismo. Quase cinco anos depois eu estreava na Rabiobras, atual EBC, exatamente no dia 11 de setembro de 2001, quando houve os atentados nas torres gêmeas. Meu período acadêmico foi tranquilo e corrido ao mesmo tempo, corrido porque eu dividia meu tempo entre a faculdade e os três empregos. Tranquilo porque muito conteúdo do curso eu já conhecia na pratica.



PL: Sabemos que ainda há poucos jornalistas negros em atividade no país, e que para se inserir no mercado é preciso ter um diferencial. Quais desafios um jornalista negro no início de carreira pode se deparar? Você se deparou com algum?

LFM: Há poucos jornalistas negros, como há poucos advogados, magistrados, médicos, engenheiros, cientistas negros. Penso que a origem está na falta de acesso à boa educação da população de baixa renda, formada em sua maioria por pretos.

O primeiro desafio de um jornalista negro, infelizmente, é mostrar que é capaz de desenvolver a função tão bem ou melhor que seus colegas de pele clara. Outro desafio é a remuneração equiparada aos brancos, se for mulher a dificuldade pode ser maior ainda, por outro lado algumas empresas perceberam que é possível encontrar este profissional disponível no mercado e acordaram também para a importância da diversidade.

Mas é bom ressaltar que na pratica, eu e outros colegas pretos que exercermos a função estamos ali antes de mais nada pela competência. Sonho com o dia em que a sociedade como um todo enxergará profissionais antes de mais nada, a cor da pele não terá importância.

PL: Atualmente temos programas sociais para o estudante de escolas públicas ingressarem nas universidades e faculdades, porém de acordo com dados do IBGE o número de estudantes negros ainda é metade do total do número de brancos. Em sua opinião, porque esse número não é igualitário?

LFM: Ainda não é igualitário porque leva tempo para que as ferramentas e sua abrangência alcancem seus objetivos. Mas há dados do mesmo IBGE que mostra que pretos e pardos são maioria nas universidades públicas do Brasil, reflexo de políticas públicas que proporcionaram o acesso da população preta e parda na rede de ensino.

E veja que auspicioso: esta informação foi divulgada em novembro de 2019, justamente quando comemorávamos mais uma semana da consciência negra. Tenho orgulho de lembrar que na ocasião, a emissora para qual trabalho reuniu em São Paulo sete profissionais negros que mostraram uma série especial de reportagens sobre as conquistas e desafios dessa população.

PL: Mesmo com as constantes transformações no mercado jornalístico provocadas pelo advento da tecnologia, acredita que é possível afirmar que as empresas de comunicação segregam jornalistas negros?

LFM: Nunca soube de empresa de comunicação que segreguem jornalistas negros se existe, não conheço e se conhecesse, denunciaria. O que noto ainda é uma falta gritante de profissionais negros em suas redações ou no vídeo, mas não posso especular sobre o motivo, talvez passe pela ausência como um todo de disponibilidade de profissionais negros no mercado ou falta de orçamento para expansão de vagas.

LEIA TAMBÉM: Na Resenha com Pedro - projeto VOZES PRETAS | Flávio Renegado


PL:
Em 2008 você passou a ser correspondente da RecordTV na África do Sul, como foi essa experiência? Voltaria a ser correspondente?

LFM: A experiência foi maravilhosa, a melhor da minha vida. Estive a cinco metros de Nelson Mandela em abril de 2009, quando o ex-líder foi votar na eleição presidencial que elegeu Jacob Zuma. Não o entrevistamos porque ele já estava com a saúde debilitada e não atendia mais jornalistas, foram dois anos de viagens e experiências espetaculares com foco nos preparativos para a realização da primeira copa do mundo no continente africano.


PL:
Desde março de 2019 eventualmente você apresenta o Jornal da Record, principal telejornal da emissora, para você como é apresenta-lo? Acreditou que um dia chegaria a esta posição?

LFM: Para ser sincero, sempre achei muito difícil chegar até a bancada do JR porque minha base era Brasília e eu nunca conversei com alguém sobre essa possibilidade. Embora tenha entrado na emissora como apresentador em Brasília, meu foco sempre foi reportagem seja na cobertura política em Brasília, seja na África do Sul como correspondente. São muitas responsabilidades de se apresentar o JR, considerado internamente como um dos principais produtos da emissora.

PL: Um jornalista deve estar preparado para cobrir diversas pautas, mas sempre à aquela que o mais o desafiou, qual a sua? E porquê?

LFM: Toda pauta é um desafio e o jornalismo é tão dinâmico e surpreendente que pautas que você imagina ser tranquila quando recebe se torna de uma complexidade enorme quando você chega na rua. Assuntos que você imagina que não irá gostar acaba sendo prazeroso, costumo dizer que no jornalismo cada dia é uma história e cada pauta uma surpresa.


PL:
Qual mensagem você deixa para o jovem negro, que tem o anseio em um dia se tornar um jornalista de renome como você?

LFM: Certa vez eu estava gravando um stand-up na rua em Brasília quando uma senhora me disse que o filho dela, negro como eu, sonhava em ser jornalista de tv mas que não acreditava que seria capaz porque não via repórteres nem apresentadores negros, e quando me viu ela passou acreditar que seria possível. A mensagem que eu deixo é que o jovem negro que queira ser jornalista vá taras do seu sonho e não se deixe abater por nada, mas que se prepare para um mercado competitivo, que devore livros, jornais, sites, que leia política, economia, cidades, tudo. Que se especialize em um ou mais segmentos para que tenha diferenciais dentro de uma redação, acreditar em si é o principal segredo.

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Na Resenha com Pedro - projeto VOZES PRETAS | Flávio Renegado

O racismo estrutural sempre dominou a sociedade, por mais que sejamos maioria entre a população brasileira, ganhamos pouco, não temos as mesmas oportunidades de emprego, educação e ascensão. Somos marginalizados ao ponto de nos tornarmos as principais vítimas da violência, além de sermos a maior parte da população encarcerada. Diante dessas problemáticas me perguntei... Porque nós negros sofremos tanto com uma sociedade injusta e cruel ao ponto de nos colocarmos como seres inferiores?

Após essa pergunta, decidi criar esse projeto, intitulado VOZES PRETAS, tendo como finalidade ouvir personalidades negras da música, arte e jornalismo, afim de desmitificar o que a sociedade sempre impôs, e aqui reafirmo: #VIDASPRETASIMPORTAM.

E para darmos início ao nosso projeto, bati um papo com o rapper, cantor, compositor, ator, ativista e empreendedor social: Flávio Renegado. Que de antemão, quero esboçar a minha felicidade e agradecer a oportunidade de conhecer um pouco sobre sua história e por ter acreditado em meu projeto. Muita paz e mais sucesso a ti, Renegado!


PEDRO LIMA: Seu contato com o rap foi muito cedo, o que te levou a caminhar no meio musical? Olhando a sua trajetória, como define seu caminho profissional?

FLÁVIO RENEGADO: Bom... Comecei a cantar rap com os treze anos, né mano. Cara eu sempre fui apaixonado por música, eu canto rap porque é o gênero musical que me arrebatou. Eu acho que de toda forma, se não fosse o rap, eu cantaria música de qualquer maneira, porque cada dia que passa eu tenho mais certeza que eu sou músico, mas o rap eu tenho uma paixão impar por ser a música da verdade, a música que fala a realidade que fala a verdade, que prega a verdade, então o rap ganhou esse lugar no meu coração nesse sentido. Cara eu me defino como esse ser cosmopolita, que é um ser periférico, tá ligado? A periferia é um lugar que reúne tudo! Reúne tecnologia, reúne resistência, reúne passado, futuro, presente. Eu sou isso, sou um pouco disso tudo, eu sou um pouco dessa nova periferia que vem se consolidando se erguendo e se fazendo presente.

PL: Em seu ponto de vista, o que motivou a criação do rap e o que o impulsionou em transformar a realidade em gênero musical?

FR: Se você analisar a história do hip-hop, ele surge e tomou força nos guetos norte-americanos por uma série de coisas. Primeiro em poder falar o que se pensa, o que se acha e o que se vive. Ele se deu muito nesse lugar de resistência e sobrevivência. Então o rap veio como representante desse som, dessa rapaziada que estava ali esquecida e marginalizada no gueto, e que não tinha condição financeira para adquirir equipamentos para fazer música na perspectiva que deveria ser, e que achou no rap e hip-hop uma maneira de produção barata e que podia se falar o que pensava, então sinto que ali o rap nasceu e ganhou fôlego, tá ligado? Por ser uma expressão do gueto, uma expressão de quem não tinha espaço para falar e encontrou nessa expressão falar o que pensa, o que acha, o que sente e o que vive. Então no meu ponto de vista é aí que o gênero ganhou força.

PL: Servindo como ferramenta de resistência, o rap por muito tempo foi marginalizado. Acredita que por ser um gênero musical feito em sua maioria por negros periféricos fez com que a sociedade tivesse essa visão?

FR: Sim! Um pouco sim, cara. A sociedade é preconceituosa, né mano? Principalmente com o que vem da periferia. O samba viveu isso, o rap viveu isso, o funk vive isso, a música nordestina vive isso. É isso, a sociedade quer que a gente continue quieto e calado no gueto, só que a periferia é o centro! Hoje nós somos a pauta, hoje nós damos a pauta para discussão, tá ligado?!  Então vamos continuar lutando e fazendo a nossa pauta acontecer.

PL: Atualmente estamos vivendo momentos de grandes transformações, tivemos muitos movimentos antirracista. Como analisa esse último ano que foi tão perverso para nós negros?

FR: Mano, a pandemia aflorou muito o que realmente é o ser humano. A pandemia nos obrigou a ficar dentro de casa e olhar no espelho, e aí quando a gente tem o assassinato do George Floyd, do garoto Miguel e de vários outros durante esse processo pandêmico demonstra o que realmente a sociedade é, tá ligado? Uma sociedade patriarcal, racista que desteta gays, pretos e mulheres, detesta os pobres. Essa sociedade que o tempo inteiro nos julga e nos condena, porque estamos apenas vivendo e resistindo e para eles é uma ofensa muito grande conquistarmos espaços e nos apropriarmos desses espaços. Então vamos continuar lutando, vamos continuar resistindo quer eles queiram ou não, mas é isso, a pandemia aflorou o que a sociedade é.


PL: Composição sua e de Gabriel moura, a música “Negão e Negra” traz uma letra forte e uma mensagem contra o racismo. Como surgiu a ideia para essa composição?

FR: Quando rolou a possibilidade de fazer um feat com a Elza, eu quis logo fazer uma música para coroar esse momento e aí nasceu “negão e negra”. Mostrei a ela que curtiu, e gravamos o som, tá ligado? Foi uma música feita para ser interpretada por mim e por ela, a gente já compôs a música pensando nesse feat, nessa parceria e eu tive a felicidade dela curtir e aceitar o feat. Então o máximo respeito! Obrigado meu parceiro Gabriel Moura, por acreditar e chegar junto comigo nessa daí, espero que tenhamos a oportunidade de escrever várias outras mais, e vamo que vamo!

PL: Ainda sobre o single “Negão e Negra”, como foi ter a Elza Soares como parceira musical?

FR: Um presente, né mano? Um presente, a partir dali nós coroamos essa parceria. Depois de “Negão e Negra” já fizemos outro feat,que foi “Divino Maravilhoso” de Gil e Caetano, e espero esse ano fazer mais feats com ela, e poder ter ela junto comigo em outras canções também. E vamo que vamo, vamo parar por aí não, ainda tenho muito que fazer nessa vida.


PL: Quais são seus projetos para este ano que se inicia?

FR: Estou em estúdio, gravando músicas novas, compondo bastante preparando novos projetos para o mundo virtual e o para o mundo presencial. Agora que temos a previsão da vacina, já fico mais feliz em poder encontrar com as pessoas poder estar no palco novamente. Estou quase há um ano sem subir no palco, muita saudade de tocar de estar junto sentir a energia do povo é o que me alimenta, mas o pessoal que acompanha meu trabalho pode continuar conectado que vai vim muita coisa nova aí, muita coisa bonita estou muito feliz com as composições novas, cheio de coisa linda. E um aviso, quem gosta de Renegado vai ficar muito feliz com esse ano, tá bom?



PL: Por fim... Qual mensagem você deixa para o jovem negro que vê o rap como forma de externar suas dores e através da música fazer uma sociedade melhor?

FR: Cara o rap é a música da verdade, se você quer cantar rap pense nisso! Pense em cantar a sua verdade, em cantar a verdade que você acredita, a verdade que te move. Você será um rapper feliz, o rap tem que ser o que a gente sente ele é o nosso coração, temos que dar vida ao nosso coração, tá na hora de dar voz ao coração o século XXI tá aí para nos mostrar os aplausos, tá ligado? Temos que dar voz ao nosso coração, deixar nosso peito falar e ser feliz, é isso.

Bom... Muito obrigado pela entrevista foi uma honra, um prazer estar com vocês. Obrigado pelas perguntas maravilhosas, adorei todas, e vamo que vamo. Pessoal que não conhece meu trabalho , convido a conhecer minhas redes e ficar por dentro, todo dia de manhã faço um café com chocolate, se quiser bater um papo de manhã cedo vai lá tomar um café comigo.

Certo? Beijo no coração, fé em Deus e é nois que tá! Até breve!

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