"Esquinas" é o quinto álbum de estúdio da dupla Anavitória, se considerarmos o projeto "N", dedicado ao cancioneiro de Nando Reis. Com uma proposta ousada e distinta dos trabalhos anteriores, o álbum reafirma o amadurecimento artístico do duo, tanto na composição quanto na produção, que desta vez conta com novos colaboradores, ampliando o horizonte sonoro.
A abertura, "Se Eu Usasse Sapato", já revela que estamos diante de uma nova era. Composta por Ana Caetano e João Ferreira, a faixa introduz reflexões sobre escolhas e caminhos, que conversam diretamente com a proposta conceitual do álbum. O título "Esquinas" sugere cruzamentos, mudanças de direção e os dilemas de quem precisa decidir para onde ir, um tema que permeia toda a obra.
Se compararmos desde o homônimo "Anavitória" (2016) até o elogiado "COR" (2021), é evidente que, embora o sucesso sempre acompanhe o duo, elas jamais se acomodaram em repetir fórmulas. "Esquinas" é um ponto de inflexão, onde a sonoridade ganha traços mais experimentais e as letras mergulham em questionamentos profundos sobre as relações humanas. O resultado é um trabalho coeso, onde as faixas dialogam entre si, mantendo a poesia e autenticidade que são marcas registradas do duo.
Destaques como "Água-Viva", "Mesma Trama, Mesmo Frio", "Navio Ancorado no Mar", "Ter o Coração no Chão" e "Espetáculo Estranho" mostram o avanço de Ana Caetano como compositora. As letras equilibram delicadeza e introspecção, enquanto os arranjos são meticulosamente construídos para criar uma atmosfera única. A evolução de ambas como artistas é palpável, e a coragem de seguir uma rota completamente nova reforça o caráter singular do duo no cenário musical.
Em tempos dominados por músicas descartáveis, com fórmulas prontas e voltadas para o consumo rápido, Ana Caetano e Vitória Falcão se destacam como uma exceção. "Esquinas" é um trabalho que exige entrega e convida o ouvinte a se perder em sua complexidade. Não há atalhos para compreender a profundidade de suas mensagens ou o cuidado de sua produção. É um álbum que merece ser apreciado com atenção, como uma peça de arte que se revela aos poucos.
Ao final, "Esquinas" não é apenas um álbum; é uma afirmação de liberdade criativa, uma declaração de que as mudanças de rota são essenciais para quem deseja evoluir.