Conhecida por grandes trabalhos na televisão, cinema e teatro, Fernanda Montenegro completou 92 anos de idade há poucos dias. Considerada uma das melhores atrizes do país, Fernanda também foi a primeira a ganhar o Emmy Internacional por sua atuação em Doce De Mãe, produzido em 2013. Além disso, é a única atriz indicada ao Oscar por uma atuação em língua portuguesa.
Fernanda Montenegro em 1966. |
Registrada como Arlette Pinheiro Esteves da Silva, nascida em Campinho, no subúrbio carioca, e estudou no Colégio Pedro II. Depois de concluir o primário, ainda conhecida como Arlette, a futura atriz se dedicou à formação para o trabalho, matriculando-se no curso de secretariado Berlitz, que compreendia inglês, francês, português, estenografia e datilografia. Frequentava ainda o curso de madureza à noite, conseguindo concluir o equivalente ao ginasial e dois anos. Aos 15 anos, ainda no terceiro ano do curso técnico de secretariado, inscreveu-se num concurso como locutora na então Rádio Ministério da Educação e Saúde, atual Rádio MEC, fator que foi decisivo para sua carreira. Arlette ganhou o concurso para atuar em um projeto chamado "Tatro da Mocidade", voltado a despertar o interesse de jovens talentos para atuar em radionovelas, sendo este seu primeiro emprego.
Seu primeiro papel como radioatriz foi em uma obra de Cláudio Fornari, chamada Sinhá Moça Chorou, na qual interpretou Manuela. Arlette permaneceu na emissora por dez anos, primeiro como locutora e depois como atriz, e foi aí que começou a escrever e usar o peseudônimo "Fernanda Montenegro". Paralelamente, a atriz passou a lecionar português para estrangeiros no Berlitz, curso que havia frequentado por quatro anos. A rádio, na qual trabalhava, ficava ao lado da UFRJ, na qual havia um grupo de teatro amador, no qual Fernanda passou a integrar, e participando da peça "Nuestras Natascha", interpretando sua primeira personagem, Cassona.
Fernanda foi casada com Fernando de 1953 e 2008, ano em que ficou viúva. |
Em 1953, aos 23 anos, Fernanda casou com Fernando Torres, que tinha 26 anos. Seu vestido de noiva fora emprestado por sua amiga, Eva Todor, que havia recém casado, e Fernanda não tinha condições financeiras para comprar um modelo novo. O casal que por muito tempo tentou ter filhos de forma natural, iniciou um tratamento de fertilização, conseguindo ter dois filhos. Em 1962, nasceu o diretor Cláudio Torres, de parto normal, e em 1965, deu à luz para a também atriz Fernanda Torres.
Em 1954, Fernanda Montenegro interpretou sua primeira protagonista na telenovela A Muralha, de Ivani Ribeira, na RecordTV. Entre 1956 e 1963, a atriz participou de diversos teleteatros na TV Tupi, de São Paulo. Em 1959 formou sua própria companhia de teatro, a Companhia dos Sete, com Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli, Alfredo Souto de Almeida e Fernando Torres. A atriz é considerada uma das grandes damas do teatro brasileiro, tendo recebido diversos prêmios ao longo da carreira, por espetáculos como A Moratória (1955), de Jorge Andrade; Nossa Vida com Papai (1956); Vestir os Nus (1958); O Mambembe (1959), com direção de Gianni Ratto; Mary, Mary (1963), dirigido por Adolfo Celi; Mirandolina (1964), de Carlo Goldoni; A mulher de todos nós (1966), dirigida pelo marido, Fernando Torres; As lágrimas amargas de Petra von Kant (1982); Dona Doida, Um Interlúdio (1987), entre muitas outras peças.
Em 1963, contratada pela TV Rio, atuou nas novelas Pouco Amor Não É Amor e A Morta Sem Espelho, ambas de Nélson Rodrigues, com direção de Fernando Torres (ator) e Sérgio Britto, respectivamente. Em 1964, na RecordTV, fez mais duas novelas dirigidas por Sérgio Britto: Vitória e Sonho de Amor, esta última uma adaptação feita por Nélson Rodrigues do romance O Tronco do Ipê, de José de Alencar, produzida pela TV Rio e exibida também em São Paulo pela TV Record. Em 1965, na recém-criada TV Globo, Fernanda Montenegro participou do programa 4 no Teatro, que apresentou uma série de teleteatros sob a direção de Sérgio Britto. Em sua estreia na emissora, a atriz atuou nas peças Massacre, de Emanuel Robles, e As três faces de Eva, de Janete Clair. Sua estreia em cinema se deu na produção de 1964 para a tragédia de Nelson Rodrigues, A Falecida, sob direção de Leon Hirszman.
Fernanda Montenegro deixou a falida TV Excelsior em 1970 e manteve-se afastada da televisão durante nove anos, intervalo quebrado apenas pela realização de dois trabalhos: o teleteatro A Cotovia, de Jean Anouilh, para a TV Tupi, em 1971, e um Caso Especial da TV Globo, em 1973. Este Caso Especial estrelado pela atriz era uma adaptação da tragédia Medeia, de Eurípedes, feita por Oduvaldo Viana Filho. Levado ao ar no mesmo dia e horário da estreia do Cassino do Chacrinha, na TV Tupi.
Ainda na década de 1970, a atriz integrou o elenco da novela Cara a Cara (1979), de Vicente Sesso, na TV Bandeirantes. Na trama, dirigida por Jardel Mello e Arlindo Barreto, a atriz viveu a personagem Ingrid Von Herbert, egressa de um campo de concentração nazista.
O RECONHECIMENTO NACIONAL
Fernanda Montenegro estreou em novelas da TV Globo em 1981, em Baila Comigo, de Manoel Carlos. Sua personagem, Sílvia Toledo Fernandes, foi escrita especialmente para a atriz, que foi dirigida por Roberto Talma e Paulo Ubiratan. No mesmo ano, viveu a milionária Chica Newman de Brilhante, novela de Gilberto Braga. Na trama, Luísa (Vera Fischer) é escolhida por Chica Newman para se casar com seu filho Ignácio (Dennis Carvalho), que é homossexual. Mas a moça acaba se envolvendo com Paulo César (Tarcísio Meira), homem de origem humilde, casado com Isabel (Renée de Vielmond), filha de Chica.
Em 1983, Fernanda Montenegro protagonizou cenas hilariantes ao lado de Paulo Autran, como os primos Charlô e Otávio de Guerra dos Sexos, novela escrita por Sílvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando e Guel Arraes. Obrigados a conviver na mesma casa e na mesma empresa devido ao testamento de um tio, os dois empreendiam "batalhas" diárias, numa verdadeira guerra. A censura impôs mudanças em personagens, diálogos e cenas. Ainda assim, a novela foi um sucesso e recebeu diversos prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, entre eles o de melhor atriz para Fernanda Montenegro.
Nos anos seguintes, participou de Cambalacho, Riacho Doce, O Dono do Mundo, Renascer, O Mapa da Mina, a minissérie Incidente em Antares, que reuniu elenco estrelar. Em 1997, Fernanda viveu o papel-título de Zazá, novela de Lauro César Muniz.
O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
Em 1999, por sua atuação no filme Central do Brasil, de Walter Salles em 1998, foi a primeira artista brasileira a ser indicada para o Oscar de melhor atriz. Um ano antes, ainda por sua atuação no filme, recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim. Ainda em 1999, foi Nossa Senhora na minissérie O Auto da Compadecida, adaptação da premiada peça de Ariano Suassuna feita por Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão, e transformada em filme no ano seguinte.
Fernanda Montenegro em "Hoje é dia de Maria" |
Em 2001 voltou a repetir a parceria com o autor Silvio de Abreu, e foi um dos destaques de As Filhas da Mãe. No ano seguinte, fez uma pequena participação em Esperança, novela de Benedito Ruy Barbosa. Em 2005 participou da premiada série Hoje é dia de Maria, dividida em duas partes, e também voltou ao horário nobre como Bia Falcão, a grande vilã de Belíssima, novela de Silvio de Abreu.
Fernanda no especial "Doce de Mãe", em 2012. |
Após o grande sucesso de Belíssima, Fernanda voltou ao horário nobre apenas cinco anos depois, em Passione, também de Silvio de Abreu. A atriz interpretou a matriarca da família Gouveia. Em 2012 foi Picucha no especial de fim de ano, Doce de Mãe, trabalho esse que lhe deu o Emmy Internacional como melhor atriz. Em 2013 participou de Saramandaia, e em 2015 voltou ao horário nobre em Babilônia, na qual interpretou uma personagem homossexual.
Fernanda em "O Outro Lado do Paraíso" |
Após algumas participações em programas da casa, Fernanda voltou ao ar no horário nobre em uma trama de Walcyr Carrasco, O Outro Lado do Paraíso, novela de grande sucesso. Em 2019, fez uma participação em A Dona do Pedaço, também de Walcyr.
E aos 92 anos, Fernanda é dona de grandes momentos da nossa dramaturgia. E então, me diga, qual o personagem de Fernanda ficou marcado em sua vida?
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