Quem não se despedaça após a perda de um ente querido? Principalmente se for um bebe que acabou de nascer, e morre logo após o parto. O casal Martha e Sean mostram em um longa potente, a dor do luto e como é difícil juntar os pedaços e se reconstruir. Somos seres humanos e cada um tem um universo dentro de si, suas dores, sua fé, seu amor, tudo isso é mostrado de uma forma assertiva e bem dirigida.
Nos primeiros minutos da obra de Kornél Mundruczó, já temos uma cena forte de Martha começando a entrar em trabalho de parto, porém a parteira que iria fazer seu parto, não pode estar em sua casa, e surgiu uma outra indicada a ajudar na condução da chegada de sua filha, porém a parteira substituta em muitos momentos apresenta algumas falhas, resultando na morte do bebe . O plano sequência e a estética já conseguem trazer uma certa aflição ao telespectador, gerando um momento de empatia pela dor da protagonista em fazer com que a criança nasça. Vanessa Kirby chama a atenção em uma atuação visceral, de cair o queixo, inclusive ressalto que Kirby pode ser indicada para a categoria MELHOR ATRIZ.
O longa então começa a focar mês em mês para mostrar os acontecimentos depois da perda da filha. Martha volta ao trabalho, enquanto Sean volta para as bebidas, o que aqui ilustra as formas de lidar com a perda, não só em momentos individuais mas como casal, nem a sua relação sexual reflete como era antes, há um abismo entre os dois, mas nunca eles conseguem se reconectar, ambos de mãos atadas, ela em nenhum momento se mostra aberta a diálogos ou chegar em algum acordo, faço até uma analogia aqui, com a Marta da Bíblia, tanto a personagem do longa, quanto retratada na série, ambas são as que querem resolver e não deixar ponta solta, a Martha de Kornel, faz um tom mais sombrio e completamente fechada, procurando apenas resolver as questões burocráticas como o velório da sua filha e a papelada, deixando sua própria família em segundo plano, sua mãe e principalmente seu marido, enquanto a da Bíblia é uma Matta mais solar, que se preocupa em acolher, mas que o tempo todo está preocupada com a casa e não com as pessoas da casa, na Bíblia Marta queria tanto receber Jesus bem que preocupou em sua acolhida mas deixou o próprio em segundo plano, ambas negaram a convivência.
Um tema recorrente no filme é até que ponto a vingança compensa, Martha é confrontada o tempo todo de levar isso ao tribunal e vingar a morte de sua filha pela parteira substituta que realizou o parto em meio a uma situação complicada mas até que ponto é saudável se alguém me fez mal eu vou e faço mal a ela, a partir desse pensamento é possível pensar em como o filme além de demonstrar com classe e empatia que todos nós somos passíveis de erros, inclusive erros que nos afetam a nossa vida e nosso circulo social.
A obra tem grandes destaques para a fotografia e a estética, os tons meio vintage e o cenário com poucas cores ajudam a expor o luto de maneira direta e sem rodeios.
Pieces of a Woman é um longa que vale a pena ser apreciado, com muita cautela, não veja em um dia triste, mas ele é um filme que consegue ser maduro e mostrar toda a complexidade do ser humano, através de como a vida separa e une pessoas em momentos distintos e como a própria vida é capaz de mudar o rumo das coisas e fazer com que ela mesmo siga seu curso.
Texto escrito por Marcos Tadeu
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